Referência
Sahdra, B. K., Ciarrochi, J., Fraser, M. I., Yap, K., Haller, E., Hayes, S. C., & Hofmann, S. G. (2023). The Compassion Balance: Understanding the Interrelation of Self- and Other-Compassion for Optimal Well-being. Mindfulness, 14, 1997–2013. https://doi.org/10.1007/s12671-023-02187-4
A compaixão é frequentemente vista como um componente vital do bem-estar, ajudando-nos a enfrentar os desafios da vida com gentileza e compreensão—tanto em relação a nós mesmos quanto aos outros. Mas e se o modo como equilibramos a compaixão por nós mesmos e pelos outros for a chave para desbloquear todo o potencial do bem-estar? Um estudo recente publicado na revista Mindfulness traz luz a essa ideia. Intitulado The Compassion Balance: Understanding the Interrelation of Self- and Other-Compassion for Optimal Well-being, a pesquisa explora como a harmonia (ou a falta dela) entre essas duas formas de compaixão pode impactar significativamente a saúde mental e a satisfação com a vida.
A ideia central: Autocompaixão vs. Compaixão pelos outros
A autocompaixão é a prática de nos tratarmos com a mesma gentileza e cuidado que oferecemos a pessoas queridas em momentos de falha, estresse ou dificuldade. Em contraste, a compaixão pelos outros envolve reconhecer o sofrimento das pessoas ao nosso redor e responder com empatia e desejo de ajudar. Ambas são essenciais para o bem-estar, mas este estudo questiona a suposição de que aumentar qualquer uma delas levará automaticamente a uma melhor saúde mental.
Pesquisadores, liderados por Baljinder K. Sahdra e sua equipe, buscaram investigar uma nuance crítica: a harmonia ou o conflito entre a autocompaixão e a compaixão pelos outros. Em outras palavras, como essas duas formas de compaixão se alinham na vida cotidiana? Nutrir um tipo de compaixão melhora o outro ou focar demais na autocompaixão pode prejudicar a maneira como cuidamos dos outros, ou vice-versa? O estudo explora essas questões em profundidade.
Uma abordagem personalizada para a compaixão
O estudo acompanhou 154 indivíduos com diversos diagnósticos psicológicos que, durante uma semana, relataram seus níveis de autocompaixão, compaixão pelos outros, humor e satisfação com a vida várias vezes ao dia. O objetivo era ver como essas duas formas de compaixão interagiam entre si ao longo do tempo e como essa dinâmica influenciava o bem-estar geral dos participantes.
Os resultados mostraram que, para a maioria das pessoas, a autocompaixão e a compaixão pelos outros tendem a andar de mãos dadas: aqueles que se tratavam com gentileza também eram mais propensos a ser compassivos com os outros, e esse alinhamento levou a níveis mais altos de bem-estar. No entanto, o estudo revelou variações significativas entre os indivíduos. Para alguns participantes, havia pouca ou nenhuma correlação entre as duas formas de compaixão. De fato, para uma pequena minoria, focar demais em um tipo de compaixão—seja direcionada a si ou aos outros—parecia prejudicar o outro, diminuindo os potenciais benefícios à saúde mental.
A importância da harmonia entre Autocompaixão e Compaixão pelos outros
Um dos principais pontos do estudo é o conceito de "harmonia entre autocompaixão e compaixão pelos outros"—a ideia de que equilibrar essas duas formas de compaixão é essencial para alcançar o bem-estar ideal. Os participantes que experimentaram essa harmonia apresentaram os melhores resultados positivos, com ambas as formas de compaixão contribuindo para sua saúde mental geral. Por outro lado, quando a autocompaixão e a compaixão pelos outros estavam fora de sintonia, os benefícios de qualquer uma delas eram reduzidos.
Essa descoberta destaca a importância de abordagens personalizadas para o treinamento em compaixão e intervenções psicológicas. Um modelo "único"—como simplesmente incentivar mais autocompaixão—pode não funcionar para todos. Para indivíduos que percebem a autocompaixão como algo que conflita com sua capacidade de cuidar dos outros, essas intervenções podem ser menos eficazes ou até mesmo contraproducentes.
Implicações para Terapias Baseadas em Compaixão
A pesquisa oferece implicações importantes para terapias baseadas em compaixão, que têm ganhado popularidade nos últimos anos. Práticas como mindfulness e meditação de autocompaixão geralmente promovem a gentileza consigo mesmo como um caminho para reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão. Embora essas técnicas possam ser eficazes, este estudo sugere que, para alguns indivíduos, é necessária uma abordagem mais refinada. Os terapeutas podem precisar explorar a relação do cliente com ambas as formas de compaixão para entender como esses processos interagem.
Por exemplo, alguém que se destaca em ajudar os outros, mas tem dificuldades em cuidar de si mesmo, pode se beneficiar de intervenções que cultivem a autocompaixão sem se sentir "egoísta" ou culpado. Por outro lado, indivíduos que se concentram intensamente no próprio bem-estar podem precisar de ajuda para aprender a estender a compaixão aos outros para experimentar todos os benefícios dessas práticas.
Dicas práticas para cultivar o equilíbrio entre Compaixão e Autocompaixão
Aqui estão algumas maneiras práticas de cultivar uma relação equilibrada entre a autocompaixão e a compaixão pelos outros:
Pratique a Reflexão Consciente: Verifique regularmente como está seu equilíbrio entre autocuidado e cuidado pelos outros. Você está negligenciando alguma área? Use técnicas de mindfulness para observar qualquer desequilíbrio.
Estabeleça Limites: A compaixão pelos outros é vital, mas não à custa do seu próprio bem-estar. Aprenda a estabelecer limites que permitam ajudar os outros sem se sobrecarregar.
Abrace a Autocompaixão: Se você é alguém que acha mais fácil ajudar os outros do que ser gentil consigo mesmo, tente mudar essa mentalidade. A autocompaixão não é egoísmo; é essencial para um bem-estar sustentável.
Amplie sua Compaixão: Para aqueles que se concentram fortemente na autocompaixão, explore maneiras de se conectar com os outros. Voluntariar-se ou praticar atos de bondade pode ajudar a fomentar um senso de conexão e humanidade compartilhada.
Uma nova perspectiva sobre a compaixão
Essa pesquisa inovadora abre caminho para uma compreensão mais personalizada e equilibrada do papel da compaixão na saúde mental. Ao reconhecer a complexidade de como a autocompaixão e a compaixão pelos outros interagem, podemos desenvolver intervenções mais eficazes e melhorar o bem-estar geral de um número maior de pessoas.
Como este estudo mostra, encontrar harmonia entre como cuidamos de nós mesmos e dos outros não é apenas benéfico—pode ser essencial para alcançar a saúde mental e a felicidade a longo prazo.
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