Estudo de 200 mulheres aponta para a autocompaixão como uma ferramenta de resiliência para aumentar a capacidade de reduzir o risco de doenças cardiovasculares
Texto de Isabel Troytiño em 17/12/2021
Original publicado no jornal La Vanguardia (clique aqui para ler o original)
Tradução livre por Fernanda Passoni
Um estudo revelou que dentre algumas práticas de resiliência, tais como a atenção plena (mindfulness) ou autoconsciência, a autocompaixão é a ferramenta que mais reduz o risco de desenvolver doenças cardiovasculares em mulheres, independentemente de outros fatores de risco tradicionais, tais como hipertensão, resistência à insulina ou níveis de colesterol.
Ao contrário de outros estudos, que partem dos efeitos nocivos e promotores de risco das doenças cardiovasculares, tais como estresse ou ansiedade, os pesquisadores buscaram uma correlação a partir de práticas preventivas positivas, tais como a atenção ou a bondade consigo.
Poderiam as práticas de redução do estresse, tais como pausa para respirar, perdão, relativização, cuidado ou autocuidado, reduzir o risco de doenças cardiovasculares? Para responder a esta pergunta, os pesquisadores elaboraram um estudo comparando parâmetros fisiológicos de risco, tais como espessura da artéria carótida e formação de placas com ferramentas de resiliência psicológica em quase 200 mulheres de meia-idade.
A pesquisa em mulheres de meia-idade
"Avaliamos essas associações em mulheres de meia-idade, uma população chave que muitas vezes experimenta desafios tanto em sua saúde psicológica quanto física e que pode se beneficiar da intervenção preventiva", explica Rebecca Thurston, professora de pesquisa em psiquiatria e psicologia da Universidade de Pittsburgh, co-autora do estudo publicado em Health Psychology.
"O trabalho anterior apontou a importância potencial do cuidado com a saúde cardiovascular, mas nós queríamos ir um passo além e olhar para a autocompaixão, da qual o cuidado é um componente, embora seja um fator psicológico relativamente novo a ser considerado em relação ao risco para estes tipos de doenças", acrescenta ela em seu trabalho.
Uma análise de como lidar com as dificuldades
Efeitos fisiológicos da autocompaixão
Os cientistas recrutaram 195 mulheres entre 45 e 67 anos de idade, a quem foi perguntado com que frequência elas experimentaram sentimentos de inadequação, decepção consigo ou percebiam-se defeituosas. Eles também perguntaram se e como elas se cuidavam, sendo gentis com elas mesmas durante os momentos difíceis. Se elas se acalmaram ou tentaram se acalmar para lidar com situações que poderiam sobrecarregá-las. Se elas meditavam ou praticavam o cuidado. Se eles se acalmavam com compreensão ou compaixão.
Por outro lado, as participantes foram submetidas a ultra-sonografias das artérias carótidas, os principais vasos do pescoço que transportam o sangue do coração ao cérebro. Eles mediram a espessura desses vasos sanguíneos e o acúmulo de placa, que são indicadores precoces de risco de doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais. As mulheres que eram mais autocompassivas tinham paredes de artérias carótidas mais finas e menos placas do que as que eram menos autocompassivas.
Resiliência
Os resultados persistiram mesmo quando os sintomas depressivos ou o tabagismo foram levados em conta.
Estes resultados persistiram mesmo quando os pesquisadores consideraram comportamentos e outros fatores psicológicos que poderiam influenciar os resultados em relação a doenças cardiovasculares, como atividade física, tabagismo e sintomas depressivos. Eles também consideraram práticas como autoconsciência, atitude reflexiva ou analítica, temperança e atenção plena.
Os pesquisadores descobriram que embora as dificuldades ou o contexto estressante sejam difíceis de mudar ou controlar em termos da primeira resposta fisiológica e psicológica da pessoa que sofre, lidar com a pressão e a realidade difícil ou conflitante, com resiliência usando a autocompaixão é uma estratégia útil não só para a saúde mental, mas também para a saúde cardiovascular.
Perspectivas futuras
Expansão do estudo e do treinamento psicológico
"Estes resultados apontam para a importância da autocompaixão para a saúde cardiovascular feminina", diz Thurston. "Dado que a autocompaixão é treinável, nossos resultados apontam para áreas potencialmente promissoras para intervenções futuras, tais como a melhoria da autocompaixão para melhorar a saúde cardiovascular das mulheres à medida que envelhecem", acrescenta ela.
Para os autores do estudo, as futuras pesquisas nesse sentido devem incluir tanto homens quanto mulheres de mais nacionalidades e etnias, investigando esta relação ao longo do tempo. Por outro lado, propõem relacionar o papel das práticas de resiliência da psicologia positiva em outros sistemas fisiológicos, tais como alterações no sistema nervoso autônomo ou inflamação, entre outros.
Comments